Vivemos tempos sombrios em que a extrema direita global ressignifica alianças políticas e instrumentaliza narrativas históricas profundamente dolorosas para justificar projetos de dominação e opressão. Um dos exemplos mais emblemáticos dessa distorção é o apoio irrestrito que setores neonazistas, bolsonaristas e fascistas oferecem ao Estado de Israel, justamente os mesmos grupos que historicamente propagaram o antissemitismo.
Essa contradição é gritante. No Brasil, entre 2019 e 2022, sob o governo de Jair Bolsonaro, consolidou-se um ambiente fértil para o crescimento do ódio, da violência e do negacionismo histórico. O bolsonarismo construiu pontes com a extrema direita internacional, promovendo o armamento da população, ataques às instituições democráticas e profundos retrocessos sociais, ambientais e culturais. Nesse cenário, a aliança com Israel ultrapassou o campo diplomático: tornou-se uma identificação ideológica. Israel passou a ser visto como símbolo de um modelo de poder armado, teocrático, autoritário com um “inimigo interno” a ser eliminado: o povo palestino.
O apoio bolsonarista ao governo israelense, especialmente à sua política de cerco e massacre em Gaza, entra em conflito direto com a própria história do povo judeu. Desde a destruição do Segundo Templo, os judeus foram perseguidos e transformados em bodes expiatórios por impérios, monarquias e igrejas. Acusados de absurdos como o deicídio, a alegação de que foram responsáveis pela morte de Jesus sofreram pogroms, expulsões e, por fim, o Holocausto: o maior genocídio sistemático da história moderna.
E é aí que está a contradição central: os mesmos grupos que hoje aplaudem o sionismo político e o expansionismo israelense são, muitas vezes, herdeiros ideológicos daqueles que outrora massacraram os judeus.
O sionismo, inicialmente concebido como um projeto de autodeterminação e sobrevivência após séculos de perseguição, tornou-se, na prática, um projeto colonial em território palestino, o que, para muitos analistas e organizações internacionais, configura um regime de apartheid.
É fundamental afirmar: combater o antissemitismo não significa apoiar políticas genocidas contra o povo palestino. Apoiar o povo judeu não é o mesmo que endossar as ações militares do Estado de Israel. O bolsonarismo e seus aliados globais apropriam-se do sionismo não por solidariedade ao povo judeu, mas por afinidade com a lógica do inimigo interno, do uso da violência como instrumento político, da destruição como método de poder.
Em Gaza, assistimos a um cerco desumano: bombardeios incessantes, destruição de hospitais, escolas e infraestrutura civil. Um verdadeiro genocídio, conduzido por um Estado que nasceu da memória do genocídio europeu e agora perpetua outra tragédia, diante dos olhos do mundo.
Enquanto isso, no Brasil, os povos indígenas alvos do mais longo e cruel projeto colonial e genocida da nossa história continuam sendo violentados, invisibilizados e exterminados. O bolsonarismo, ao exaltar Israel, nega os direitos originários e intensifica a devastação ambiental e cultural dos territórios indígenas.
A aliança entre o sionismo institucional, a extrema direita cristã e os regimes autoritários não é apenas política: é teológica e colonial. Trata-se de um projeto de poder que precisa ser denunciado com toda clareza.
Ser antissionista não é ser antissemita. Ao contrário, é recusar o uso político da memória do Holocausto para justificar novas formas de opressão e genocídio. É afirmar a defesa da vida, da justiça e da dignidade de todos os povos.
A extrema direita brasileira, que persegue os direitos LGBTQIA+, paradoxalmente apoia um Estado que legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Essa incoerência não é ideológica, mas instrumental. O apoio a Israel está calcado em uma aliança cristã-sionista de cunho messiânico, baseada na crença de que Israel cumpre um papel nas profecias do fim dos tempos, não por respeito ao povo judeu, mas por um fanatismo escatológico.
É comum pensar que nada se compara ao Holocausto. No entanto, no século XXI, poucos eventos se assemelham tanto àquela tragédia quanto o massacre sistemático promovido por Israel na Faixa de Gaza.
Pessoas confinadas, famintas, privadas de direitos básicos e mortas sob o silêncio ou a conivência das potências globais, tudo isso em nome de uma ideologia que se apropriou da dor para justificar a destruição.
A lógica bolsonarista, sob qualquer perspectiva histórica, é insustentável. Cabe a nós, especialmente à juventude e aos movimentos sociais, desmascarar essas contradições e construir um caminho de solidariedade internacional, justiça e paz entre os povos.
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