Há 71 anos, precisamente no dia 24 de agosto de 1954, com um tiro no coração, o então presidente Getúlio Vargas, como ele mesmo descreveu em sua carta-testamento, “saía da vida para entrar para a história”, ao se suicidar no palácio do Catete no Rio de Janeiro.
Getúlio, figura controversa, que governou o país por mais de 18 anos, atravessou várias fases da nossa história, primeiramente com o governo provisório, que interrompeu a república café com leite, que alternava o governo nas mãos da elite latifundiária de São Paulo e Minas Gerais, em eleições suspeitas de fraudes, assumiu a presidência do governo provisório, tendo depois de um golpe, proclamado o Estado Novo, derrubado pelos militares e sendo eleito presidente pelo voto popular, assumindo a cadeira novamente em 1951.
Durante mais de 18 anos Getúlio transformou o país , industrializando-o, criando a Petrobrás, a siderúrgica de Volta Redonda, a Eletrobrás, lutando para impedir a remessa ilegal dos lucros das empresas estrangeiras para o exterior, criando a CLT, protegendo os trabalhadores, entre outros legados importantes. Foi chamado de ditador, fascista, democrata, trabalhista e por último, socialista. Seu suicídio, ato extremo, impediu o golpe militar, que aconteceria 10 anos mais tarde e manteria o curso normal da democracia, com a posse do vice-presidente Café Filho.
Getúlio Vargas foi uma figura polêmica, mas agregava apoiadores e durante sua última trajetória, atraiu políticos de outros partidos, distribuindo ministérios para o PSD ( um centrão da época), quando ele mesmo era do PTB ( considerado partido de esquerda) e principalmente a admiração da massa, sendo chamado do “pai dos pobres”.
Uma frase dita por Getúlio e que chama a atenção no atual contexto, foi: “- Não tenho inimigo de quem não possa me aproximar, nem amigo de quem não possa me distanciar”.
Recordo que Lula , ao explicar o nome do empresário José Alencar na chapa como seu vice, disse: “- Não somos como Romeu e Julieta”. Deu certo e José Alencar não só cumpriu seu papel de apaziguar as diferenças com a aristocracia brasileira, como foi um parceiro fiel à Lula, que repetiu a receita com Geraldo Alckmin.
No atual contexto, surge José Dirceu, uma das lideranças do PT, com a afirmação de que Lula montou um governo de Centro-direita, tendo depois acertado ao se retificar, dizendo que o o governo era de esquerda, com a participação de partidos de centro-direita, o que é correto, tendo em vista a participação de partidos como aliança e PP, ainda com ministérios no governo. Mas, diante do posicionamento cada vez mais claro dos partidos, com a chegada das eleições presidenciais, ano que vem, a postura do presidente de cobrar uma posição desses partidos, bem como se aproximar de outros de centro ou centro direita, como MDB e PSD, se faz necessária , uma vez que o principal cargo do executivo está em jogo, priorizando em manter a união e as coligações progressistas com os antigos aliados PSOL, PC do B, PSB e PDT, que sem Ciro, pode voltar a ter a sua identidade trabalhista.
Aliás, citando Ciro, fecho repetindo a frase de Getúlio Vargas: “- Não tenho inimigo de quem não possa me aproximar, nem amigo de quem não possa me distanciar”.
Distanciar-se, muitas vezes, é melhor que se aproximar.
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